Turismo consciente no Laos: é possível fazer um passeio com elefantes sem crueldade

Durante a viagem para Luang Prabang, no Laos, nosso grupo viveu o dilema de querer ter uma experiência com os elefantes, mas sem que isso fosse um problema. Explico: na Ásia é comum a exploração de animais para fins turísticos e os mais sacrificados costumam ser os elefantes, que são obrigados a trabalhar dia e noite carregando turistas “no lombo”. O que muita gente não sabe é que o treinamento a que eles são submetidos é cruel. Não à toa, o elefante asiático corre risco de extinção.

Muitos turistas continuam procurando esses passeios por desconhecer seus impactos negativos. Mas se  procurar um pouquinho de esclarecimento sobre o assunto, já desiste. Na internet há vários vídeos sobre o “treinamento” (ou melhor,  sofrimento) dos elefantes para aprender a carregar turistas. Também há estudos que comprovam que o animal preso em cativeiro vive bem menos do que o que vive na floresta. Pesquisas indicam que um dos motivos seria a depressão, já que o elefante é um dos animais mais sensíveis.

Além dessa exploração turística, os elefantes são usados para carregar peso em obras e um outro detalhe agrava o problema da extinção: o comércio de marfim. Ou seja, é muita exploração para um só animal.

Cientes de tudo isso, tudo o que a gente queria era não piorar a situação dos bichinhos. Foi então que vimos o anúncio de uma agência de turismo ecológico que dizia em caixa alta: NO RIDING! A Mandalao é uma empresa que começou o trabalho de resgate dos animais há pouco tempo, mas que tem mostrado avanços no sentido de conscientização de turistas e locais quanto à necessidade de parar com a exploração dos elefantes.

Eles têm uma fazenda – que chamam de santuário – onde os animais são reabilitados para viver em ambiente adequado e longe de trabalho abusivo. Logo nos animamos e fechamos o passeio por 85 dólares (que inclui o transporte até o local e um almoço típico). É bom fazer a reserva com certa antecedência, pois eles limitam o número de visitantes por dia para não estressar os animais.

Como é o passeio

O passeio começa cedo com a agência buscando o grupo no hotel e levando de van até o Santuário, que fica a uns 15 minutos do centro de Luang Prabang. Ao chegar no local, eles te direcionam a um deck onde funciona o restaurante e de onde se tem uma vista linda da fazenda. Alí do alto vimos alguns elefantes andando livremente na mata.

O guia então reúne o grupo e dá várias explicações sobre os elefantes, o projeto, como funciona, como os eles vivem e como devemos nos comportar diante dos animais. Durante a conversa são servidos alguns petiscos típicos (e deliciosos) do Laos.

O guia nos explicou, por exemplo, que ali na fazenda, apenas as fêmeas adultas são liberadas para o contato com os humanos, pois os machos são mais agressivos (daí se tem uma noção do que é preciso fazer para que eles se transformem em criaturas dóceis a ponto de aceitar que pessoas desfrutem de um passeio nas suas costas).

Em março de 2017 – data que fizemos a visita – haviam apenas 7 elefantes (entre adultos e filhotes) no Santuário de Mandalao, pois o projeto havia sido iniciado há 4 meses. Eles ainda tinham uma área relativamente pequena e precisariam de mais investimentos para resgatar outros animais, já que para um elefante sentir que está realmente vivendo em uma floresta é preciso um espaço de mata de aproximadamente 20km para cada um.

Antes de começar efetivamente o passeio, eles nos oferecem umas meias e botas de cano alto (mais parece um tênis com uma capa alta que vai até o joelho). O passeio começa com a travessia do rio (um trecho bem estreito) em uma canoa. Alí ele já entrega um cacho com aproximadamente uma dúzia de bananas para cada um e avisa que vamos precisar delas para conquistar a confiança do animal. Do outro lado do rio, seguimos por uma trilha bem íngreme.

Em determinado  ponto, ele nos distrai sugerindo que uma pessoa do grupo suba em cima de um toco para avistar elefante lá embaixo. Quando de repente… escutamos um barulho vindo de dentro da mata.

Aí meu corassaummm…

Quase morri quando vi aquele bicho lindo. Meu coração foi na boca em um misto de medo e emoção. Ele foi chegando perto e eu parecia não acreditar que realmente teríamos o previlégio de toda aquela “intimidade” com a senhora elefanta. Acho que nunca imaginei uma interação tão próxima e tão emocionante com os elefantes.

Logo o guia sugeriu que pegássemos as bananas e oferecêssemos a ela. Eu, burramente, queria descascar as frutas e entregar organizadinho, mas a elefanta engolia o cacho todo, com casca, caule e, se tivesse, ia até a raiz junto. Logo apareceu outra. Ficamos alguns minutos ali alimentando aqueles gigantes e tirando muitas fotos. Então o guia anunciou que era hora de seguir a trilha. Para minha surpresa, elas foram junto com a gente.

Um cuidador as acompanhava, tomando conta para que elas se comportassem diante das visitas. Em nenhum momento vimos agressão. Eles, no máximo, cercavam o animal para que ele não saísse tanto da trilha.

O caminho levava de volta ao rio, onde um balde com mais alguns muitos quilos de bananas era oferecido para que a gente alimentasse e estreitasse a relação com os bichos.

Logo as elefantas entraram no rio para se refrescar e o guia nos deu baldes para que a gente pudesse ajudá-las no banho.

O resto vocês já devem adivinhar… todo mundo molhado, um jogando água no outro e não só nos elefantes. Até o guia entrou na brincadeira e todos saíram de lá bem molhados. Por isso é bom ir com roupas que você não tenha apego (pois vai sair bem sujo de lá) e levar outra para se trocar no fim.

O passeio termina com um almoço típico delícia que já está incluso no pacote .

Sobre a Mandalao

É uma organização criada por americanos que vivem há anos no Laos. O projeto em si, é tocado diariamente por funcionários laocianos. De acordo com informações do nosso guia, a instituição tem o apoio do Governo do Laos, que oferece incentivos para ajudar na conscientização do seu povo sobre a necessidade de se preservar os elefantes e tirá-los da exploração.

O guia nos explicou que o processo é lento e complicado, ja que os laocianos fazem como um forma de sustento, por isso a empresa vem tentando incluir toda a família no projeto. Em geral, os homens trabalham na fazenda e as mulheres na criação do artesanato com papel feito a partir das fezes dos elefantes. Tudo para que as famílias, que antes viviam da renda da exploração dos elefantes, possam ter outros tipos de fontes e não precisem mais caçar.

Segundo o guia, 50% do que se arrecada com os passeios é para a alimentação dos elefantes, que comem por dia o equivalente a 7% do seu peso. Considerando o peso médio do elefante asiático (5,7 toneladas), são aproximadamente 399 kg de comida por dia para um único elefante. Realmente a “conta do mercado” deve ser pesada. 🙂

30% do valor arrecadado com as visitas de turistas é destinado para o pagamento dos salários dos empregados e os custos com a manutenção do espaço. Os 20% restante é direcionado à ações de caridade às famílias que viviam da caça.

A agência da Mandalao fica na rua principal de Luang Prabang, a Sisavangvong e você também pode fazer a reserva com antecedência através do site. Há diferentes tipos de tours, inclusive em um deles você tem a oportunidade de cozinhar a comida que será servida ao elefante.

Já viveu uma experiência parecida com um elefante? Conta para gente aqui nos comentários!

Quer saber mais sobre esse país que nos encantou? Veja aqui no nosso roteiro completo, que também serve como índice para todos os outros posts publicados sobre o Laos


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Comentários

  1. O Laos é realmente um lugar maravilhoso.
    Mas a Praia da Enseada no Guarujá-SP também espera por um artigo.
    Parabéns e obrigado por todas as sua informações.
    No Guarujá, venha conhecer o Iracemar.
    Um abraço.

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