A visita ao Museu Vivo da Memória Candanga
Dos vários museus que já visitei em Brasília, o Museu Vivo da Memória Candanga foi um dos que mais me emocionou. No local, funcionava o primeiro hospital da capital, o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO). Muito da estrutura foi preservada e é nessa grande área, na saída sul da cidade, que é contada a história por trás da construção de Brasília.
Digo por trás, porque diferente de vários outros que contam a história de Brasília, o Museu Vivo da Memória Candanga resgata a cultura e a tradição daqueles que se aventuraram a ir para o meio do “nada”, participar da construção da capital do Brasil. Ou seja, aqueles que literalmente colocaram a mão na massa, os chamados “candangos”.
O que significa a expressão candango?
Os operários que vieram de toda a parte do Brasil ajudar na construção da capital brasileira ficaram conhecidos como candangos. A expressão tem origem africana e remete a uma pessoa “ruim, ordinária, vilã”.
Antes de tudo, o termo era usado como uma forma de rebaixar os trabalhadores humildes, que em sua maioria vinham do Nordeste e eram considerados sem cultura pelos “doutores”, a outra classe de colaboradores que trabalhavam em escritórios.
O termo, no entanto, deixou de ser pejorativo quando o então presidente Juscelino Kubitschek usou a palavra em seu discurso de inauguração da cidade para elogiar aqueles que a construíram. Então, a partir desse momento, os doutores também queriam ser candangos.
“Brasília só pode estar aí, como a vemos, e já deixando entender o que será amanhã, porque a Fé em Deus e no Brasil nos sustentou a todos nós, a esta família aqui reunida, a vós todos, candangos, a que me orgulho de pertencer. Viestes, alguns de Minas Gerais, outros de estados limítrofes, a maioria do Nordeste. Caminhastes de qualquer maneira até aqui, por estradas largas e ásperas, porque ouvistes, de longe, a mensagem de Brasília; porque vos contaram que uma estrela nova iria acrescentar-se às outras vinte e uma da bandeira da Pátria”.
Trecho do discurso do então presidente Juscelino Kubitschek em 20 de abril de 1960
O que ver no Museu Vivo da Memória Candanga?
No local onde hoje é o Museu Vivo da Memória Candanga funcionava o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO), criado para atender a demanda não só de operários acidentados nas construções, mas também de outros serviços, como partos e atendimento ambulatorial de crianças e donas de casas.
A construção é um tanto diferente do que estamos acostumados a ver em um hospital. São 23 casinhas de madeira, que mostram muito da arquitetura da época.
E diferente do que podemos esperar de um hospital, o ambiente é bem aconchegante, com casinhas coloridas, cercadas por inúmeras árvores. Em cada ambiente, há uma exposição diferente.
Existem exposições permanentes, temporárias, espaços para encontro de artesãos, bosque, auditório, parquinho e uma oficina para trabalho com estudantes que visitam o local.
No espaço central uma mostra permanente impressiona. “Poeira, lona e concreto” expõe cenários muito reais que mostram a história da cidade, desde o início, quando tudo era apenas poeira, até a inauguração. É emocionante ver os detalhes sobre a simplicidade do povo que ajudou a construir algo que modificou a história do país.
Em alguns ambientes, foram reconstruídos cenários inteiros e de forma perfeita. Um consultório médico, uma cozinha de obra, réplica de comércios da época e muitas fotos.
Das construções, do antes e depois e dos candangos. Tudo foi fotografado. A ideia era “garantir que aquilo tudo não era um sonho, mas algo concreto”.
A mostra ainda apresenta registro do dia da inauguração, que teve como um dos momentos de maior vibração a passagem dos candangos.
Os anônimos da história de Brasília desfilaram sobre caminhões, tratores e outras máquinas que usaram nas obras. Nas mãos, levavam suas ferramentas de trabalho.
Informações importantes
O museu fica aberto de segunda a sábado, das 9h às 17h e a entrada é gratuita.
Perfil do Instagram: @museuvivodamemoriacandanga
Endereço: Lote D Setor Juscelino Kubistchek, CEP: 71739-020 Núcleo Bandeirante, Brasília-DF.
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