Como é a bizarra experiência de pegar uma ‘acqua alta’ em Veneza

Quando a gente pensa em Veneza, o que vem à cabeça é a imagem dos gondoleiros característicos navegando em seus labirínticos canais. E é mesmo assim. A cidade flui através de seus canais. O que muita gente não sabe é que Veneza é uma ilha, cercada por uma imensa lagoa que se comunica com o Mar Adriático.

Veneza pode ser acessada por barco – pequenos e grandes (principalmente no verão, centenas de cruzeiros atracam em seu porto, despejando milhares e milhares de pessoas num turismo em massa e desordenado), mas é também ligada ao continente por uma ponte através da qual chega a maioria dos veículos (que não transitam na cidade, eles devem ficar num estacionamento) e possui uma estação de trem, a Santa Lucia, por onde chegamos no meio da tarde vindo de Verona.

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Na ocasião do desembarque parecia que o céu ia desabar em chuva e trovoada. A gente iria se hospedar do lado da estação, mas tivemos que esperar passar a chuva para conseguir chegar até o hotel. Esperamos com bom humor, em uma loja de conveniência, tomando nosso Bellini, a característica bebida néctar dos deuses inventada em Veneza e meu drink preferido no mundo – em qualquer banquinha da cidade vende Bellini engarrafado – oh glória!

Depois de estabelecidas no hotel, a gente foi conhecer a cidade, considerada Patrimônio Mundial pela Unesco (tem roteiro de Veneza aqui). Ainda do saguão de entrada, antes de sair, notamos funcionários da prefeitura montando um monte de passarelas de madeira para os pedestres. Perguntamos qual era a finalidade daquelas instalações e o recepcionista disse que às vezes a água dos canais subia, mas que era tranquilo, um procedimento comum.

Seguimos passeando pelas ruazinhas e fomos procurar um restaurante recomendado. Acabamos ficando em outro. Conversa vai, vinho vem e de repente vimos certa movimentação dos garçons, balde, rodo, pano. Quando a gente olhou para fora, a rua estava tomada pela água. Já tinha subido uns trinta centímetros e os garçons já estavam colocando tábuas de contenção nas portas. Entreolhamos-nos sem entender nada, receosas, pedimos a conta na tentativa de começar nossa odisseia de voltar para casa.

Só então associei que aquilo poderia ser a acqua alta, um fenômeno que ocorre principalmente no outono/inverno, com pico em novembro e dezembro. Era março, oficialmente inverno, mas já estávamos com um pezinho na primavera. Nunca imaginei – logo eu, a louca da previsão do tempo.

Para entenderem melhor: o fenômeno ocorre devido a ventos que se formam no oceano, a corrente de ar empurra a água da lagoa que entra nos canais, elevando o nível da água. Seria algo como uma maré alta, que dura poucas horas e atinge apenas alguns pontos críticos, geralmente as áreas mais baixas da ilha, como a Piazza San Marco. Os venezianos possuem um sistema que prevê os dias de acqua alta e a prefeitura envia uma mensagem para o celular para avisar a população.

Fomos procurar o ponto do vaporetto, que parava na porta do hotel. Vaporetto são os barcos e o principal meio de transporte dos venezianos. Descobrimos que quando ocorre acqua alta eles podem deixar de transitar, o que ocorreu no dia. Sem alternativas, seguimos a pé. O caminho do GPS apontava para os lugares que não tinham passarelas.

Perdidas, o que é bem comum em Veneza, desistimos de ficar nas passarelas e lá fomos nós com a água fedida batendo na canela.

Acuadas, seguindo as plaquinhas e, ocasionalmente, as informações dos moradores, por fim, cerca de uma hora depois, conseguimos chegar no hotel, com cara de alívio e rindo da experiência mais surreal da viagem.

Li que muita gente deixa de ir a Veneza no inverno, receosos com a acqua alta. Na nossa opinião, não há com que se preocupar. É um fenômeno comum, rápido, previsível e os hotéis e restaurantes estão super preparados para isso. Além disso, nessa época a cidade fica menos cheia e mais confortável e você consegue apreciar melhor.

Se no dia da sua estadia houver previsão de acontecer o fenômeno, escolha os pontos mais altos da cidade que não são atingidos e, se for a noite, faça só um lanche rápido e fique no hotel. Ficamos dois dias em Veneza e no segundo dia a água dos canais não subiu e ainda fez um solzão maravilhoso, que deixou o humor e as fotos lindas.

Já passou por uma experiência similar? Conta pra gente!

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Mais informações e dicas sobre Veneza você confere aqui.



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Comentários

  1. Maria Elisa
    21 maio 2018

    Adorei o post!!! 😉

  2. Jenifer Alencar
    22 maio 2018

    Que experiência, hein?! Isso que é vivenciar os dia-a-dia veneziano rs Adorei as dicas!! 😉

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