Pirenópolis: Ecologia e gastronomia se misturam na Vagafogo
O que muitos brasilienses gostam de fazer no fim de semana? Fogem do DF. Algumas cidades pequenas e lugarejos de Goiás se transformaram em locais cativos desses foragidos como visitar as cidades de Formosa, Alto Paraíso e Pirenópolis. Esta última simplesmente é tomada e se transforma, muitas vezes, numa espécie de grande clube entre ruas históricas. Mas há locais nessas mesmas cidades que ainda é possível encontrar diversão e um pouco de sossego.
É o caso do Santuário de Vida Silvestre Vagafogo, em Pirenópolis. É um lugar que oferece uma caminhada relaxante em meio a uma mata fechada, além de opções aventureiras e um brunch.
Como chegar
São dois os caminhos principais que levam até Pirenópolis, partindo do DF. Evandro Ayer, proprietário da Vagafogo, recomenda a BR 060, com desvio para a GO 338 em Abadiânia. Diz que é uma estrada que oferece mais serviços, é bem sinalizada e há opções, inclusive, para ciclistas transitarem em segurança. Nessa estrada, o visitante passa por Planalmira, que é uma espécie de cidade minúscula e simpática.
A desvantagem é o próprio movimento da BR 060, que liga Brasília a Goiânia. Apesar de a pista ser dupla, requer muita atenção. A outra opção, mais comum e de menor distância, é via BR 070 por Corumbá de Goiás. A estrada foi recapeada recentemente. Está ótima para o carro, mas é perigosa devido à precária sinalização, falta de serviços e grande movimento aos fins de semana.
Uma vez em Pirenópolis, não há problemas para se chegar à Vagafogo. A cidade tem várias placas com indicação ao santuário de vida silvestre. A dica é descer a rua da matriz, pegar a ponte velha em direção à pousada dos Pirineus (a mais famosa da cidade) e seguir as placas. Não tem erro. O caminho até o centro de visitantes é por meio de uma estrada de chão estreita, mas boa. Não há atoleiros ou erosões que possam seriamente danificar o carro. Claro, há de se dirigir com cautela, em especial se estiver em um carro popular que não foi desenvolvido para aquele tipo de situação.
Visualizar Santuário de Vida Silvestre Vagafogo em um mapa maior
O Santuário
Para quem gosta de locais rústicos, limpos e bem decorados, a sede do Santuário satisfaz. O lugar é aconchegante, amplo e informal no tratamento com os visitantes. Quer uma água? Pegue na geladeira. Quer andar pela propriedade? Fique à vontade. Claro que para tudo existem preços lá dentro. A caminhada custa R$ 16, para fazer arvorismo, R$ 50, e por aí vai. A diferença é que os proprietários, a família Ayer, deixam os visitantes à vontade e estabelecem uma relação de confiança: “faça o que quiser, e depois venha aqui e me diga o que usufruiu.” Então o pagamento é efetuado.
O Santuário de Vida Silvestre Vagafogo foi a primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil. “Resolveram criar reservas particulares chamadas RPPN via Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e Ministérios, porque alguns proprietários queriam preservar as áreas, mas não era desejo doá-las para o governo, que não dá conta de preservar o que têm”, explicou Uira Ayer, filho de Evandro.
“Tivemos o apoio da ONG Funatura, que nos ajudou na parte teórica. Também recebemos ajuda do Governo Britânico, da WWF e da [Fundação Grupo] Boticário, que nos deu verbas para a construção do centro de visitantes e na elaboração do plano de manejo com pesquisas de fauna e flora.”
A Vagafogo e demais áreas vizinhas preservadas são fundamentais para existência de um corredor ecológico para que as espécies de animais possam transitar, além de garantir um refúgio seguro para muitas outras. Do contrário, poderia acontecer uma situação de ilha, como existe no Parque Nacional de Brasília: os animais ficam confinados e sujeitos ao isolamento. Com o tempo isso pode levar ao aparecimento de outras espécies ou até mesmo levar à extinção.
“Ornitólogos fotografaram o uirapuru-laranja, que é um pássaro difícil de ser encontrado, mas que na Vagafogo tem sido avistado a todo momento. Tem se visto por aqui animais de outras regiões que se deslocam fugindo do crescimento desordenado”, explicou Uira. Embora os visitantes precisam pagar por cada atividade desfrutada, pesquisadores tem trânsito livre na propriedade.
Infelizmente os meus ouvidos leigos não são treinados para identificar os diferentes cantos de pássaros. Gente da cidade está familiarizada com o piar do pardal (quem sabe de alguma coruja) e o canto do sabiá. Mas andar pela mata fechada da Vagafogo, prestando atenção em volta, ouve-se quase uma sinfonia. É possível até encontrar outras espécies de animais. Na ocasião em que passei por lá, vi um bando de macacos-prego. Tudo bem que é uma espécie comum que se aproxima muito do meio urbano (há um bando que rouba comida de visitantes na Água Mineral, em Brasília). Mas aqueles ali, ao menos, estão em um ambiente mais reservado.
Atividades
Outro aspecto interessante na Vagafogo é a sensação térmica. Na “boca” da mata, a temperatura cai. No dia em questão enquanto “lá fora” fazia cerca de 26°C, dentro da mata a temperatura era de apenas 21°C. A impressão que se tem é que o ar torna-se mais denso. A caminhada é pequena, de apenas 1,5 km, com direito a parada em dois pontos no córrego Vagafogo. Em nenhum deles forma-se poções e cachoeiras grandes, mas são lugares bons para se refrescar e molhar os pés.
A atração mais recente são as atividades de aventura com plataformas de arvorismo, pêndulo (imagine um balanço gigante), rapel e “salto do primata”. Em agosto está prevista a inauguração de uma tirolesa. “Em primeiro lugar, sou um apaixonado por esportes de aventura”, disse Uira. “Tive a idéia de trazer e adaptar alguns destes esportes em São Paulo. Essas atividades também são um chamativo para que o jovem possa vir ao Santuário. Elas também foram um bom aditivo para captar a renda necessária para manter a propriedade.”
Há uma pequena base (gratuita e baixinha) que serve para treinar e brincar de arvorismo antes de se ter de subir uma escadaria se pneus velhos morro acima (é preciso ter certo preparo físico e bons joelhos). Os pneus foram fornecidos pelo Ibama e servem tanto para ajudar no acesso quanto evitar a erosão no local. É neste ponto que os instrutores passam as recomendações e medidas de segurança.
A única atividade que não é praticada morro acima é o “salto do primata”. “A idéia do salto do primata veio de uma foto que um dos visitantes trouxe. Lá em Foz do Iguaçu pratica-se o pulo do gato. Então resolvemos criar o nosso, que é o pulo do primata, cujo objetivo e saltar e tentar agarrar o trapézio.”
Infelizmente, não tive sorte em praticar o que desejava. No dia em que estive presente, havia apenas dois instrutores e por estar acompanhada de um grupo com mais oito pessoas, o instrutor que fala linguagem gerundiana, colocou uma série de obstáculos e frustrou o grupo. Se você for visitar em dia de semana, a dica é que se ligue antes para a Vagafogo e reforce que vai fazer as atividades.
Brunch
Além do contato com a natureza preservada, boa coisa na Vagafogo é o brunch, servido até às 16h. O visitante pode degustar queijos, geléias e chutneys e frutas desidratadas. Vale à pena, em especial se o objetivo é almoçar na cidade. Porém, se a intenção é ficar por lá, então prove nada. Mantenha a barriga vazia para garantir espaço e colocar 45 itens de comida servidos no brunch: quase tudo produzido na própria Vagafogo, exceto a granola. “Essa a gente compra de uma produtora aqui mesmo da cidade que é uma delícia”, disse Evandro. “Não poderíamos concorrer com ela.”
Há também como ter esse brunch fracionado, com alguns itens. Recomendo o completo e que se vá com muita fome. Prove o chutney de tomate com o pão integral ou na carne fria mergulhada em azeite e azeitona. O pão de mel com doce de leite e o queijo fresco com a geléia de jabuticaba. Há também alho desidratado, omelete, pão de queijo, salada de fruta, mel, pasta de pequi cremoso e muito mais. “Você é mineira ou goiana?”, Evandro me perguntou. “Sou brasiliense nascida e criada no DF”, respondi. “Ah, então você conhece isso”, e me mostrou um prato de broas de milho quentinhas e deliciosas. Evandro é um grande anfitrião: conversa com os visitantes, dá toques de educação ambiental e ainda apresenta o banquete que é servido.
Curioso é que Evandro explica, mas o grande mestre cuca de formação empírica da fazenda é Uira. “Procuro sempre desenvolver receitas que tenham peso regional e também nacional”, disse. “As receitas foram evoluindo com o tempo e também na base de muito bate-papo com os visitantes, até que chegamos a esse cardápio com 45 itens. Mas as invenções não param. Agora mesmo estou inventando carambola desidratada com sal.” Este pode ser mais um produto colocado à disposição na fazenda. Vai depender em agradar o paladar do visitante.
Se você exagerar na comida, dê uma olhada pelas janelas. Há um monte de redes disponíveis para se deitar e até tirar uma soneca.
Djenane Arraes é nossa amiga, jornalista e editora da revista Elefante Bu. Viajou por conta própria a Pirenópolis e colaborou gentilmente com o Across the Universe.
Informações adicionais
Telefone: (62) 3335-8515
Celulares: (62) 9222-5471 e 9115-0376
vagafogo.com.br
Veja aqui uma lista completa de hoteis e pousadas em Pirenópolis.
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