Myanmar e um propósito de vida

Para quem ainda não me conhece, sou a Juju, curitibana sempre em busca de novos desafios e de fazer o bem! Tive o prazer de conhecer a Polliana durante uma viagem ao Laos em 2017, onde eu começava uma aventura sozinha de autodescobrimento e reconexão comigo mesma. Eu tinha recém pedido a conta do trabalho que eu tinha em Singapura e deixei a vida confortável e custosa para cair de mochila pelo mundo. Nesse texto conto como foi fazer um trabalho voluntário no Myanmar. 

Como tudo começou…

Moro no exterior desde 2011, morei e trabalhei em navio de cruzeiros do Mediterrâneo e morei e trabalhei em Singapura. Durante a estadia na “Ilha da Fantasia“, como costumo chamar, pude viajar muito pela Ásia, mas ainda haviam muitos lugares a serem explorados. Depois de grande desilusão e frustração com a vida profissional e pessoal que acarretou em uma depressão profunda, com aconselhamento espiritual entendi que estava na hora de reencontrar meu propósito neste mundo e de ir em busca de um sonho antigo.

A idéia inicial era viajar por 6 meses (3 meses na Ásia e 3 meses na Europa) e então retornar ao Brasil. Eu tinha um dinheiro guardado e usaria todo o montante durante essa viagem. A ideia era que, depois disso, eu começasse uma nova vida na minha terra natal. Mas depois de dois meses de estrada, sentia que faltava algo ainda nessa minhas andanças. Um dia quando eu estava em um hostel em Bangkok durante o Sonkran, lembrei que uma amiga havia comentado sobre trabalho voluntário no Myanmar e que eu deveria conhecer o lugar onde ela esteve.



Como eu não conhecia o país até o momento, pensei: “Acho que é uma boa idéia”. Então comprei a passagem e fiz o visto de turista online, embarcando no dia seguinte para um país ainda desconhecido por mim. Não tenho costume de pesquisar sobre os lugares onde visito, apenas reservei a primeira noite em um hostel e confiei no sentimento de que tudo daria certo.

Depois de alguns dias no país visitando regiões mais turísticas com pessoas que conheci no hostel, sabia que estava na hora de seguir meu caminho só novamente e ir em busca do trabalho voluntário.

Vida em Myanmar

A mudança de planos

Foi quando então eu conheci a Sue, uma local que seria responsável por me enviar ao monastério budista para ser voluntária. Quando encontrei a Sue, tivemos uma conexão de como nos conhecemos a vida toda. Foi um sentimento muito bom.

A vida no monastério em Myanmar

No dia seguinte a Sue me enviou para o vilarejo onde fica o monastério local, que é afastado da cidade. A viagem durou pouco mais de três horas e cheguei ao local já de noite. Logo fui conhecer o monge encarregado. Conversamos por alguns minutos e ele me perguntou por quanto tempo ficaria e o que poderia fazer alí. Respondi que poderia ficar por duas semanas e que ajudaria no que fosse necessário. Fui levada então ao quarto para descansar. Na manhã seguinte quando acordei, me encantei com o lugar que estava diante dos meus olhos.

Aos poucos fui entendo a vida local e me adaptando a rotina do monastério. No Myanmar muitos monastérios facilitam a educação para as crianças, principalmente em regiões remotas onde as famílias não tem condições de dar educação aos filhos. Esse monastério onde eu estava atendia mais de 1400 crianças, apoiando com moradia, refeições e estudos.

As crianças vinham desde vilarejos próximo até mesmo de regiões muito afastadas. Os monges cuidam de todas as crianças que ali moram, cuidam das famílias quando vem visitar seus filhos, dos moradores do vilarejo e de todas as pessoas que vem de muito longe para ajudar ali. Tudo é feito com recursos originados através de doações tanto de pessoais locais quanto de estrangeiros.

Mosteiro no Myanmar

O trabalho como professora voluntária

O monge me pediu para que eu ajudasse nas atividades do dia a dia do monastério mas principalmente pediu para que eu ministrasse aulas de conversação em inglês para alguns grupos de alunos. Apesar de já ter feito muito trabalho voluntário com crianças, ser professora seria a primeira vez.

Trabalho Voluntário no Myanmar

No início foi uma atividade desafiadora e com muitos obstáculos, mas o sorriso de satisfação das crianças de estarem na sala de aula aprendendo um idioma ainda tão desconhecido foi altamente gratificante.

Após duas semanas era hora de partir, mas eu não me sentia pronta para deixar aquele lugar. Quando os monges me pediram para ficar por mais tempo, aceitei de coração aberto. Pois além de ser voluntária dando aulas para a criançada, eles me ensinavam sobre a cultura, sobre o budismo e sobre a importância e benefícios da meditação em nossa vida.

O início de uma biblioteca

Consegui um visto por mais 70 dias na Embaixada em Bangkok, na Tailândia. Durante os dias que precisei ficar em Bangkok pensei muito em como poderia ajudar aquelas crianças de uma forma que não houvesse a dependência de ter estrangeiros para ensinarem a eles. Como no monastério não havia livros ou material para as aulas, usei o dinheiro que gastaria viajando e comprei livros e material de aula.

Mas eu ainda achava que seria pouco, afinal são muitas crianças. Foi então que decidi fazer uma arrecadação com amigos pelo mundo todo como uma forma de celebrar meu aniversário fazendo o bem.

O resultado foi sensacional, arrecadei valor suficiente para fazer quatro estantes de madeira (material e mão de obra local), e consegui comprar 500 livros, mais lápis de cor, papel sulfite, e material suporte para a aula.

Biblioteca construída no myanmar

Quando o local para os livros ficou disponível para os estudantes, foi lindo de ver todos eles passando o seu tempo livre, lendo, colorindo e se divertindo com tanta informação diferente. E nesse momento tive certeza que tomei a decisão certa.

Hoje a biblioteca já tem mais de 3000 livros, tudo arrecadado com doações em dinheiro que usei para compra de mais livros e com envio de caixas de livros de amigos de todas as partes do mundo.

E assim o tempo foi passando e duas semanas se transformou em dois anos em um piscar de olhos. Durante esses dois anos, além de aulas no monastério, dei aulas em vilarejos para pessoas que não tinham nem terminado o primário, dei aulas para grupos de mulheres e de pequenos empreendedores ensinando-as a melhorar seu desempenho de marketing digital e serviço ao cliente. Além de participação em projetos voltados a conscientização ambiental e criação de espaços de leitura através de doações de livros.

trabalho no myanmar

Hand to Hand Charity

Um dos meus projetos do coração no Myanmar, é o Hand to Hand Charity, ele é o projeto da Sue, lembra a moça que me enviou ao monastério?! Ela tem um projeto lindo de ajudar as crianças carentes do seu vilarejo e que tive a felicidade de participar e hoje ajudo ela mesmo remotamente a fazer o projeto crescer a ajudar mais e mais crianças e adultos.

Trabalho voluntário no exterior

Seis anos atrás, quando ela iniciou, ajudava um grupo de 10 crianças. Hoje, juntas conseguimos ajudar quase 200. Se você quiser conhecer um pouco mais da história dela, assista a esse video. O trabalho dela também é compartilhado em sua página no Facebook e no site

A vida no Myanmar me ensinou o que o menos esperava. Ser amada e amar sem expectativas e sem cobranças.

Trabalho voluntário no Myanmar

Uma vida simples, com muitas dificuldades, mas com muita alegria. Serei eternamente grata por essa experiência e grande aventura que me ajudou a entender meu propósito de vida. Levar uma vida simples, sem o conforto da vida moderna me fez ser mais grata por tudo e todos que tenho em minha vida.

Planos futuros

Agora depois de quase 7 meses de volta ao Brasil. Decidi que volto ao Myanmar em 2020, para dar continuidade aos meus projetos. Quero continuar o trabalho voluntário no Myanmar. Dentro de mim existe um sentimento, um chamado para voltar e continuar o trabalho que iniciei. Mas para isso preciso da sua colaboração. Estou trabalhando na cidadezinha onde moro, Prudentópolis, PR. E o dinheiro que ganho aqui espero conseguir comprar minha passagem aérea, porém preciso também arcar com o custo de todo o material que uso em aula, além do visto para ficar por lá por pelo menos um ano.

Então estou fazendo uma Vakinha Online, e se puder contribuir ou ao menos compartilhar o link com amigos, agradeço imensamente. Seu apoio e bondade farão a diferença. Faça sua doação aqui. E não se esqueça: fazer o bem ao próximo é fazer o bem a si mesmo”.

Juju Cristine é curitibana, formada em Tecnologia em Logística, anos de experiência na área de turismo e logística ferroviária. Em 2011 decidiu que era hora de ir em busca de um sonho de criança, morar no exterior. Sua primeira experiência profissional em águas internacionais foi a bordo de um navio de cruzeiro no mediterrâneo. Depois disso trabalhou em uma central de atendimento em Singapura, onde também trabalhou com exportação. Em 2016 decidiu que era hora de ir em busca de um outro sonho; o trabalho voluntário com crianças em um país em desenvolvimento. E foi no Myanmar que conseguiu desenvolver projetos educacionais com mais de 2000 crianças durante os 2 anos que morou por lá. Foi blogueira de viagens por mais de 5 anos, mas hoje apenas utiliza as mídias sociais para compartilhamento de seus projetos de caridade e da cultura dos países por onde passa. Acompanhe tudo em seu perfil do Instagram.



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Comentários

  1. Ficou sensancional Polli. Gratidão pelo espaço e pelo convite para compartilhar um pouco dessa minha mudança ba forma de ver a vida. ☺

  2. Que lindo! Aqueles momentos em que sentimos bem com nos mesmos! PARABÉNS!!!

  3. Ana Esteves
    05 abr 2021

    Bom dia Juju. Podemos falar sobre Myanmar e ação humanitária? Sinto cada vez mais necessidade de ir. Organizar e ir quando puder. Se lhe fizer sentido por favor contacte me. Obrigada

    • Ana, tudo bem?
      Falei com a Juju e ela disse que tem recebido muitas mensagens de pessoas que querem ir ao Myanmar para ações diversas. Mas infelizmente no momento não é possível ou permitido.

      Ela pediu que entrasse em contato comigo via Instagram se quiser conversar @jujucristine_life ou enviar um e-mail para Juliana.cristine@gmail.com

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