Chapada dos Veadeiros: Roteiro de 3 dias a Cavalcante
Para aproveitar os três últimos dias das minhas férias, resolvi visitar a Chapada dos Veadeiros. Depois de dez dias de praia meu corpo estava pedindo água doce. A intenção inicial era fazer uma trilha segunda, terça e quarta, acampando uma noite em cada lugar, a exemplo do que fiz há uns anos na Chapada Diamantina, na famosa trilha do Vale do Paty.
Cheguei no início da noite de domingo ao povoado de São Jorge (35 km de Alto Paraíso) e, após alguns contatos com guias locais, percebi que esse tipo de trilha não existe ou não é oferecida na Chapada dos Veadeiros. Assim, restava apenas a trilha com pernoite dentro do parque, a Travessia das Sete Quedas, que não me agradava muito naquele momento. O negócio era dormir e decidir o que fazer pela manhã.
Um quarto bem simples na pousada Berço das Águas, por R$ 40,00, apenas o pernoite, sem café da manhã, parecia uma boa opção. Parecia… O calor insuportável (não havia ventilador) e o ataque intermitente dos pernilongos me fizeram passar em claro a noite inteira e me ajudaram a decidir o destino no dia seguinte: partir para Cavalcante, município da Chapada dos Veadeiros bem menos visitado que São Jorge e Alto Paraíso, mas com diversas atrações naturais.
Primeiro dia
Para exercitar um pouco nosso espírito de aventura (o meu e o do Percheron Alado – nossa Pajero TR4), nada melhor que percorrer os, aproximadamente, 130 km de uma estrada de terra que ligam São Jorge e Cavalcante, passando pela simpática Colinas do Sul. (Em tempo: dá para ir para Calvacante saindo de Alto Paraíso. São 90km de asfalto). A estrada de chão também é bem tranquila e guiando com cuidado qualquer um pode percorrê-la sem maiores problemas mesmo sem um carro 4×4, desde que seja um pouquinho mais alto como o Uno modelo antigo, por exemplo.
Vale a pena pelo visual das serras, pelo banho no Rio Preto, no meio do caminho, e pela chance de topar com algum bicho como a seriema que correu à frente do carro por uns 100m até resolver voltar para a segurança da mata. Depois de duas horas de sol, poeira e belas paisagens, chegamos em Cavalcante, já bem depois da hora do almoço.
Contatei ou tentei contatar quase dez guias até acertar com o pessoal da Araí, o guia Beto, uma ida às cachoeiras do Prata no dia seguinte. Importante ressaltar a gentileza de todos os guias com os quais falei, que não podiam me atender mas indicaram, com a maior boa vontade, outros que talvez estivessem livres.
Segundo dia
No dia seguinte partimos para as Cachoeiras do Prata às 9h. O percurso só pode ser feito em carro com tração. Se o carro for do guia o preço, claro, sobe bastante. Indo no próprio carro, o turista vai pagar 100 reais para um grupo de até cinco pessoas.
Até a entrada das cachoeiras são uns 60km de estrada de terra que valem muito a pena. Já no atrativo, uma trilha bastante tranquila, sem muitas elevações nem longas distâncias, leva a cinco belíssimas quedas d´água sendo a última um grande lajedo com várias piscinas naturais. A maior delas deve ter uns 30m de comprimento por oito de largura, um retângulo quase perfeito. Lugar para curtir a preguiça, nadar, se refrescar e curtir a bela paisagem.
Terceiro dia
No dia seguinte, o passeio foi para a Ponte de Pedra. A entrada fica bem próxima à cidade. A trilha foi uma das mais difíceis que já fiz. No início é preciso subir a serra numa forte inclinação que faz ranger até os joelhos mais lubrificados. Paradas regulares são indispensáveis para evitar que o coração salte pela boca. Na próxima vez vou levar uns bastões de trekking, teriam sido bem úteis.
Ao chegar ao topo da serra, lugar que durante a subida eu muitas vezes pensei que não alcançaria, fomos por uma trilha plana, relativamente curta e que poderia ser tranquila, não fosse o cansaço da subida e o sol causticante. Ao final dela, um lindo poço com água deliciosamente refrescante salva a vida de quem nele chega. Emoldurado por interessantes formações rochosas, entre elas uma imponente e gigante ponte natural de pedra, o poço é apenas a ante-sala do que na verdade parece uma enorme catedral natural.
Cruzamos o poço, passamos por baixo da enorme ponte e seguimos o rio por alguns metros até chegarmos em um apertado cânion onde só se passa a nado. Depois de atravessá-lo, paramos no alto de uma cascata que mergulha numa fenda abissal, aos nossos pés. À nossa frente, um paredão de rocha gigantesco, de uns 200m ou mais. E dentro de nós, a sensação nítida de estar em um lugar sagrado, daqueles que tiram o fôlego e calam as palavras para apenas contemplar, no silêncio que nos impõe as visões deslumbrantes.
De volta ao poço, mais uns banhos para assimilar melhor o espetáculo recente e subimos por uma trilha íngreme, mas curta para visitar o mirante à beira da serra, onde ela abruptamente cai para formar um gigantesco vale e de onde se vê grande parte do Parque Nacional e ainda se tem outro ângulo da cascata, do cânion e do paredão.
Fotos: Arquivo Pessoal
Considerações finais
Enfim, ótimo passeio! Apesar de mais distante e com características bem diferentes de São Jorge, Cavalcante é um lugar ainda por explorar. Pra quem gosta de um clima de cidade de interior, eu recomendo.
Recomendo ainda, na cidade, a operadora Araí (contatoaraiturismo@gmail.com), a Pousada Morro Encantado e a cerveja artesanal Aracê (62-9804-2501), que é produzida na cidade por um chileno e sua esposa que foram visitar a região, se apaixonaram e resolveram ficar.
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Wilton Oliveira é nosso amigo, brasiliense e apaixonado pelo estado de Goiás. Funcionário público nas horas úteis e artista cênico nas horas vagas. Apaixonado por vinhos, cervejas especiais, gastronomia e viagens, com sua esposa Juliane Marie, está sempre em busca de uma oportunidade para explorar o mundo com roteiros próprios e que fogem do trivial.
Oi, pessoal. Tudo bem? 🙂
Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Natalie – Boia
Wilton, parabéns pelo relato. Sou um feliz proprietário de um veículo 4×4 e estou em busca de algumas trilhas interessantes na região da chapada. Pode me ajudar?
Oi Helton,que bom que gostou do relato.
Na verdade queria ir muito mais do que vou à Chapada. Trilha 4×4 mais “hard” nunca fiz, até por falta de companhia (1a lei do jipeiro “Nunca entre na trilha sozinho” :-)). Mas em Cavalcante tem o território Kalunga que ainda quero explorar além do vão do moleque (cachoeira sta barbara) que é o único que conheço.Outra viagem que fiz há muito tempo, no meu antigo Uno (ele achava que era um jipe) foi seguir pela 020 e entrar na altura de Flores de Goiás para, por uma estrada de terra bem trash, chegar em alto paraíso cruzando a serra. Essa foi superação total, até porque não estava com um carro exatamente apropriado. Quero fazer de novo. Quem sabe marcamos uma aventura por lá?
abração!
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