Goiás em cena na Globo
Na semana passada estreou na Globo a nova novela das 9, Em Família. E como todo início dos folhetins globais, há aquele grande investimento em locações externas, com cenas gravadas em paisagens belíssimas, dentro ou fora do Brasil, com imagens que serão arquivadas e utilizadas durante toda a trama.
Foi assim com Amor a Vida que começou no Peru, Flor do Caribe que se passava na fictícia Vila dos Ventos, inspirada em Pipa, no Rio Grande do Norte, Páginas da Vida, que teve cenas iniciais em Amsterdã e várias outras novelas. Aliás, novelas tem sido grandes divulgadoras de destinos. Recentemente a Turquia passou por um verdadeiro boom de turistas brasileiros por conta da ostensiva divulgação na novela Salve Jorge.
Mas divulgar um destino através da dramaturgia não é feito só pelas novelas globais, se lembrarmos que Woody Allen é mestre no assunto. Quem nunca ficou com vontade de conhecer Barcelona depois de assistir Vicky Cristina Barcelona, embarcar no primeiro voo para Paris depois de Meia-noite em Paris ou se perder pelas vielas de Roma depois de Para Roma com Amor?
E a Globo escolheu Goiás
Enfim, nunca escondi que sou noveleiro. E fiquei curioso quando soube que o novo folhetim de Manoel Carlos teria o meu estado de Goiás como pano de fundo e ainda seria dirigido por Jayme Monjardim, que eu particularmente sou fã de suas produções, famosas por fotografia impecável. Quem tem mais de 30 deve se lembrar da novela Pantanal exibida pela extinta Manchete, e que brilhava aos olhos dos telespectadores com cenas gravadas em uma época que a TV não dispunha de tecnologias em High Definition (HD). O Pantanal Matogrossense está na minha bucket list desde essa época.
Bom, não sei ao certo os motivos que levaram a decisão de escolherem o estado de Goiás, a capital Goiânia e as cidades históricas de Pirenópólis e Cidade de Goiás como locação, até mesmo porque a gente sabe muito bem que o Manoel Carlos gosta mesmo é do Rio de Janeiro. Aliás, do Leblon. Mas há quem associe ao fato de Goiânia ter tido o menor índice de audiência da Globo no Brasil em 2013 e que esta seria uma estratégia para reconquistar o telespectador goianiense. Sendo verdade ou não, pouco importa. Se isso servir de alguma forma para divulgar e fomentar o turismo em Goiás, já terá sido válido.
Mas para quem é de Goiânia ou conhece bem a capital tem ficado confuso ao assistir esses primeiros capítulos. Estão fazendo uma salada, misturando imagens da nova com a antiga capital de Goiás e até mesmo com o Rio de Janeiro. Isso acabou gerando um #papodemaluco entre eu e a Camila Torres do Colecionando Imãs, no último sábado, no Twitter. Ficamos intrigados com as cenas de pessoas andando a cavalo na Praça Cívica e de um casamento que acontecia em Goiânia, só que em uma igreja com a fachada da Igreja do Rosário, na Cidade de Goiás, e com o interior de outra do Rio de Janeiro. Confuso? Me acompanhe!
Reconstituição da cena
A mãe de um personagem – que foi enterrado vivo pelo noivo que está casando naquele exato momento – sai caminhando em passos largos pela Praça Cívica em Goiânia …
… em seguida os amigos do personagem-enterrado-vivo-pelo-noivo passam correndo montados em cavalos (oi?) seguindo a mãe que vai brava em direção à igreja. Sim, em cavalos e em plena Praça Cívica, onde, na vida real, o máximo que pode ser visto é a cavalaria da Polícia Militar que faz a guarda do Palácio das Esmeraldas, esse prédio verde que aparece discretamente ao fundo e que é a residência oficial do governador de Goiás.
Segundos depois, ela magicamente chega a Igreja do Rosário, que fica na Cidade de Goiás, 160 km da capital. Discute com um policial militar para entrar na igreja…
.. mas logo consegue vencer o obstáculo e entrar..
… gritando “ASSASSINOOO!!!” e interrompendo o casamento na.. OPS! Essa já não é a Igreja do Rosário na Cidade de Goiás. Esse interior não é o dela…
… mas a fachada é!
Como assim? Esse seria o interior real da igreja…
Putz! Dai tu fica com um nó na cabeça e se perguntando que igreja é essa que você não conhece nem em Goiânia e nem na Cidade de Goiás? Pirenópólis também foi locação, será que é por lá? Pisquei e perdi alguma cena? Seria a mãe do personagem-enterrado-vivo-pelo-noivo uma romeira de Trindade ou do Muquém? Googla daqui e dali e nada de entender o que aconteceu.
O fim do mistério
Mas dai a Daniela Pereira deu a dica que resolveu o mistério e fechou o roteiro que a mãe do personagem-enterrado-vivo-pelo-noivo percorreu a pé para desmascarar o noivo meliante. O interior é o da da capela do Marista São José no.. tchan tchan tchan.. RIO DE JANEIRO! As fotos deste link batem com o interior da igreja mostrada na novela e comprovam a informação da Daniela.
Pronto! Foi desfeito o mistério. A mãe percorreu 1476 km a pé para entregar o assassino do filho à polícia. Quem ainda duvidava do que uma mãe (e goiana!) é capaz de fazer pelo filho, já não tem mais dúvidas. 😀
Quem quiser assistir o vídeo desta cena, ele está disponível aqui.
Esta é uma obra de ficção
Brincadeiras à parte, é claro que eu sei que “esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade“, mas tem sido divertidíssimo brincar de charada da sexta tentando descobrir onde cada imagem foi gravada. Só espero que o telespectador também lembre disso e não conclua que civis andam a cavalo no centro de Goiânia. 🙂
Curiosidade
Você sabia que essa não é a primeira vez que Goiânia serve de cenário para uma novela da Globo? Em 1989, algum tempo após o acidente com Césio-137, a novela Salvador da Pátria (aquela do Sassá Mutema) teve algumas cenas gravadas na capital. Foi uma ação patrocinada pelo Governo de Goiás com o objetivo de quebrar o climão pesado que pairava no ar, elevar a auto-estima do goianiense e mostrar para o resto do Brasil que a população de Goiânia não havia se transformado em seres mutantes após o maior acidente radiológico do mundo. 🙂
eu não sou tão noveleira mas gosto de assistir os primeiros capítulos justamente pra ver as cenas gravadas em outros lugares… Mas pior do que essa confusão dos locais está os erros de data (filmadora nova mostrada em casamento no final dos anos 80, uma sobrinha que deveria ser uns 10 anos + nova do que a tia parece ser 10 anos + velha e por ai vai rs)
Ihh Fernanda!
Se fomos analisar sob o aspecto cenográfico e cronológico, teríamos assunto pra um mês inteiro! 😀
Aquele senhorzinho da cabeça branca da terceira foto do post, é ninguém mais nada menos que o Sr. Dalmo Siqueira, pai de Walter Marques Siqueira. Foi emprestar sua Brasília veia para a produção e virou figurante…moooorra de rir.
Gente! E não é que é ele mesmo! hahahaha
O Sr. Dalmo trabalhou comigo!
E o que ele está fazendo agarrado com essas duas senhoras? 😀
Isso mostra que Goiânia realmente é um ovo. Até quando ela aparece em obras de ficção e no meio de tantas imagens e locações confusas, você acaba encontrando um conhecido. 😀
Com certeza ajudará a aumentar o turismo na região de Goiás com a exposição na novela. A Globo deveria fazer mais isso com outros destinos do Brasil e não só lá fora. O Brasil é muito grande, repleto de cultura e diversidade e se bem explorado pode render grandes tramas.
É verdade, Thiago.
O Brasil é gigante demais para vermos tramas ambientadas somente no Rio e São Paulo.
sou portuguesa e sempre vi novelas brasileiras! Tens um país muito lindo!!
Marcelo, confesso que não tinha observado isso na novela, que era em Goiás. Bem interessante a sua postagem. Descobri seu blog hoje e já está nos favoritos. Vida longa ao seu blog!