Amsterdã, a cidade onde tudo é permitido
Antes de falar sobre Amsterdã, uma dica útil para quem pretende sair de Paris para Amsterdã de trem. Quando eu estava montando o roteiro da viagem e comprando os bilhetes de trem e avião, fiquei inconformado com os valores dos bilhetes entre Paris e Amsterdã. O melhor preço que consegui foi de trem e beirava os 120 euros. A partir de uma dica particular do blogueiro e turista profissional Ricardo Freire, quebrei a viagem no meio e consegui o trecho todo por 60 euros.
Qual a mágica? Fomos de Paris para Bruxelas de Thalys e de lá pegamos outro trem de Bruxelas para Amsterdã da cia Corail, na mesma estação. Ambos os tíquetes adquiridos antecipadamente pelo site da SNCF e retirados em Paris em um dos vários quiosques de atendimento automático espalhados pela cidade. O site é em francês e a compra rolou com o apoio do Google Translator e de muita delicadeza cirúrgica.
Daí vocês podem pensar: “Pô, legal que vcs conheceram Bruxelas!” Sim, conhecemos a estação Brussels Midi. Ficamos 2hrs parados lá dentro. O frio estava tamanho que não animamos a colocar o nariz para fora da estação. Sem contar que a cidade estava coberta por neblina.E parece que isso é uma constante por lá, vejam esse post engraçadíssimo sobre a “Constatação de existência de sol na Bélgica“
A hospedagem
Pois bem, comecemos a falar da capital da put.. ops, Amsterdã. Ficamos hospedados no Bobs Hostel. Aliás, quero deixar registrado aqui: “Ô lugar feio!” Se o de Paris foi o melhor que eu já fiquei hospedado até hoje, este de Amsterdã foi o pioooorrrr de toda a minha vida. Eu nunca vi algo tão xexelento como este. Por mais que tivessem me alertado sobre o padrão de qualidade de todos eles na cidade, eu nunca imaginei que fosse tanto. A recepção é em um porão, vc desce umas escadinhas e de cara encontra um lobby onde a marijuana rola solta.
Os cidadões que te atendem na recepção parecem que vieram direto dos acampamentos do Woodstock. O acesso aos quartos é feito através de escadas muito íngremes, o que dificulta muito subir arrastando malas. Ficamos em um quarto com 10 pessoas, sendo que 2 delas dormiam em colchões colocados sobre uma bancada de cimento. Os demais em beliches que balançavam assustadoramente. Sem contar que vc era obrigado a sair do quarto no máximo até as 10:30 da manhã. Enfim, não volto e não recomendo!
City Tour
Nosso tempo em Amsterdã foi curto: 12hrs do dia 06 de junho as 19hrs do dia 07. Logo, tudo teria que ser feito rapidamente e de forma otimizada. Lembram do passeio que fizemos de bike por Paris do post anterior, né? Pois bem, chegamos detonados por lá e nem queríamos cogitar na hipótese de alugar uma.
Nunca vi tanta bicicleta por metro quadrado em toda a minha vida. A coisa é cabulosa! Dizem que 26% do transporte na cidade é feito com elas. Se as grandes cidades sofrem com a quantidade de carros nas ruas, imagino que Amsterdã sofra com as bicicletas. É difícil encontrar árvores e grades disponíveis para amarrar e estacionar as magrelas.
Enfim, fugimos de todas as recomendações e fizemos o nosso tour por Amsterdã a pé mesmo. De posse de um mapa comprado no centro de informações turísticas por 2 euros (absurdo!), saímos andando com uma dificuldade imensa de associar os nomes das ruas em holandês. Tínhamos que ficar decorando a sequência de consoantes e ir comparando com as placas. Até então eu achava que só o alemão era uma língua ordidária.
Mas batendo cabeça e as pernas chegamos a um dos destinos, a Casa de Anne Frank. Pra quem não recorda, Anne Frank é a autora de um diário que virou um best seller mundial, o Diário de Anne Frank, sendo traduzido para várias línguas e até transformado em filme. O diário conta a vida e o dia-a-dia dela e de sua família judia escondidos em um “universo paralelo” de uma casa em Amsterdã na ocupação nazista da Holanda durante a Segunda Guerra Mundial. E a casa é essa que visitamos e que virou museu.
A visita, pelo contexto histórico, vale muito a pena. Ainda mais se você já tiver lido o livro – o que não era o meu caso. Custa 7,50 euros e é feita em grupos com poucas pessoas, por isso há uma fila considerável de espera do lado de fora.
Visitamos também o Museu do Van Gogh. 17,50 euros e “no student discounts”, sem choro! Fiquei frustrado, já que imaginei encontrar muitas obras dele pra justificar um museu daquele tamanho. Creio que seria mais prático colocar todas as obras dele no Louvre. Masss, nem de arte eu entendo pra ficar dando pitaco! hehehe. Enfim, se você gosta do trabalho do Vicent van Gogh, aprecia arte e tem 17,50 euros sobrando, vale a pena!
Para o primeiro dia, já estava de bom tamanho. Voltamos para o hostel e procuramos descansar. Não sem antes ter que tomar um relaxante muscular. A essa altura já somavam 15 dias de bate-perna pela Europa, e o cansaço já era bem evidente no nosso semblante.
No dia seguinte fizemos o checkout do hostel xexelento, tomamos café da manhã e fomos deixar as malas no locker da estação central, de onde pegaríamos o trem para o Aeroporto Schiphol e de lá um vôo para Londres.
O locker da estação central de Amsterdã é todo “self-service”, você chega a um totem de auto-atendimento, enfia seu cartão de crédito (7 euros) e ele emite um bilhete com um código de barras e a numeração do seu armário. A numeração é como nos joguinhos de batalha naval, linha X e coluna Y. O nosso bilhete dizia algo como “1-2” e o Quint logo foi dizendo e apontando: “É este aqui!”. Eu olhei e apesar de não concordar que seria aquele armário, aceitei até mesmo prq não tinha entendido até então a lógica da parada. Sem contar que o armário estava com a porta aberta, ou seja, tinha tudo pra ser ele mesmo.
O Red Light District e o Mercado das Flores
Bagagens guardadas e bem seguras, e lá fomos nós de volta as ruas de Amsterdã. O nosso objetivo era conhecer no mínimo o Red Light District e o Mercado das Flores. Já não tínhamos mais saco pra ficar olhando pro mapa cheio de ruas com nomes que mais pareciam siglas gigantes, então saímos andando sem rumo, pra onde o nariz apontasse.
Batemos no Red Light District, famoso bairro da “indústria do sexo” da cidade onde a prostituição é uma atividade legal. Era manhã, e a maioria das moças estavam descansando, poucas se exibiam em suas vitrines, mas foi o suficiente para ficarmos animadíssimos! A cada corredor era uma surpresa. Dizem que há muitas brasileiras por lá, mas a maioria que vimos deviam ser européias mesmo, loiras e de olhos azuis.
Não atrevemos a apontar a câmera para tirar fotos, dizem que elas não gostam e havia várias placas dizendo sobre a proibição. Preferi não contrariá-las. Mas colhi umas fotos pela Internet (desconheço a autoria) para vocês terem uma noção melhor do que é este lugar:
Da putaria fomos para o Mercado das Flores. Como já não era mais época das tulipas nos campos (abril, início de maio) recebemos a informação de que em junho só encontraríamos no mercado. E só foi lá mesmo que as vimos. São muito bonitas e realmente no campo devem ficar ainda mais.
E não só de flores vive este mercado. Você também pode encontrar os produtos da marijuana, em todos os formatos. Seja em forma de biscoitos, gomas de mascar, barras de cereais, balas, pirulitos… e mais uma infinidade de produtos, ou até mesmo in natura:
Compramos alguns souvenirs e fomos almoçar. O Quint só queria saber de Mc Donalds, e eu já queria experimentar tudo o que fosse atípico pra mim e típico no país, e eis que preferi comer essa batata lambuzada de muita maionese e sal. A combinação parece estranha, mas é muito popular em Amsterdã.
A viagem de volta e a atrapalhada com o locker do aeroporto
Já era hora de pegarmos o beco pro aeroporto, e fomos para a estação. Mas antes, teríamos que retirar as malas no locker. Como eu disse anteriormente, o processo é todo automatizado, chegamos com o tíquete com o código de barras e mostramos para o leitor, como um passe de mágica a porta do armário abre, mas do armário ERRADO! Putz, bateu o desespero!
Eu comecei a culpar o Quint pela interpretação errada do código de linhas e colunas, que na verdade deviam ser colunas e linhas, já que abriu o armário “2-1” e não “1-2” como imaginávamos. “E agora, o que fazer? E se alguém tiver levado nossas malas?“. Fomos em busca de ajuda com o tiozinho que tomava conta da parada. O Quint: “Vai você .. eu não sei falar..” Sobrou pra mim, e já fui formulando a frase na cabeça pra dizer: “Hey.. Weee puuut ourrr luggaageee in a wrooong looocker, pleeease heeelp uss?“. Leiam isso tentando imaginar um cidadão falando devagarzinho e espaçado na tentativa de fazer um senhor holandês entender o seu problema.
O tiozinho pegou o tíquete e começou a rir e dizer: “two one! No one two.. hahahaha“. Pensei: Que simpatia! Está rindo! É sinal que vai nos ajudar. Claro, se alguém já não tiver levado as malas. Mas eis que ele fuça daqui e dali, arromba uma coisa e outra e a porta abre! Que surpresa boa, as malas estavam lá! 🙂 Só alegria!
Dali pra frente, a preocupação já era outra, encarar a tão temida imigração do Reino Unido na chegada em Londres. Mas isso é assunto para o próximo post!
Zie je nog wel!
Vídeo
Ah, ainda tem o vídeo do Quint, o último que ele fez.
Informações adicionais
Essa viagem foi feita em 2008, há bastante tempo. Se você deseja informações atualizadas sobre Amsterdã, não deixe de visitar o blog Ducs Amsterdã. Daniel e Carla Duclos são brasileiros que vivem em Amsterdã e mantem esse blog com informações diárias e fresquinhas, com a visão de quem vive a cidade. Não deixe de visitar. 😉
Essa história do Locker eu não conhecia. Rs…
Muito sortudo!!
Ahh… Amsterdan…
Poxa Lemos, esse lugar que você se hospedou em Amsterdan é “massa”! Até o cubículo do Dilbert é melhor 🙂 Interessante as fotos pitorescas da cidade…
Adorei a matéria !! Realmente é legal lembrar que lá em Amsterdã não pode tirar fotos das mulheres que ficam nas vitrines, como você mesmo disse. Eu achei que podia e quase tive problemas, eles são bem rígidos quanto a isso !
No mais, uma cidade bem linda mesmo
Amsterdã é sensacional. O fato deles serem bem liberais nos faz sentir bem à vontade nessa cidade. Fora que sempre voltamos de lá com inúmeras histórias pra contar rsrs.
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