Como é o carnaval em Salvador

Millena Lopes, amiga, jornalista, baiana e mega empolgada experimentou pela primeira vez o Carnaval de Salvador e conta para gente como foi a experiência.

Após uns 25 anos de expectativa e tentativas frustradas, finalmente em 2013 passei um Carnaval em Salvador. Vivi uma experiência bem diferente da maioria, já que estou casada e viajei com meu marido, que é um festeiro. Mas é um marido. Me hospedei na casa de uma amiga, que mora há mais de uma década na capital baiana e entende tudo de Carnaval de Salvador. Na avenida, nos divertimos na companhia de amigos de infância – a maioria, solteiros.

Os blocos e camarotes

Para o primeiro dia, escolhemos um camarote: o Cerveja e Cia. Muito bacana, embora não seja o melhor do circuito Barra-Ondina (o Camarote Salvador, cujo ingresso pode custar até R$ 1,5 mil por noite, é o mais top). Com bebida e muita comida à vontade, a farra durou dez horas e custou R$ 350 por pessoa (compramos no mesmo dia, de um cambista, na feirinha do Aeroclube).

Millena Lopes no Camarote Cerveja e Cia

Camarote Cerveja e Cia

Da varanda, que tem dois andares, dá para ver todos os trios e blocos. Mas as atrações dos camarotes não se limitam à programação oficial e alguns levam bandas e DJ’s para suas estruturas. No Cerveja e Cia., por exemplo, MC Marcinho colocou todo mundo para descer até o chão. No cardápio, caldos, petiscos, lanches e até jantar. Comi churrasco, hambúrguer e até filé ao molho madeira.  Mas quando os blocos passavam, minha gente, meu sangue baiano pulsava e minha vontade de ir atrás dos trios elétricos, no chão, era absurda.


No sábado, comprei um bloco: o Eva. Desta vez, de um cambista no Shopping Iguatemi. Custou R$ 380, mas outras pessoas conseguiram, lá na feirinha do Aeroclube, por R$ 350 e até R$ 300. Foi uma das experiências mais lindas que já vivi. No Farol da Barra, três da tarde, sob o sol e sentindo a brisa do mar. Era a despedida de Saulo Fernandes da banda e foram cinco horas de puro axé. Sem conversa. Sem intervalo. Sem tempo para respirar. Coisa linda de Deus.

Saulo Fernandes no Eva - Foto: Rita Barreto - Setur/BA

Saulo Fernandes no Eva – Foto: Rita Barreto – Setur/BA

No fim do circuito, resolvi ver Ivete Sangalo passar, com seu Cerveja e Cia. (o bloco). Bem tranquilo. Uma parada para um pastel e o fatídico encontro com a pipoca (no Carnaval, forma a pipoca quem acompanha os trios elétricos fora dos blocos) do Chiclete com Banana. Já tinha ouvido falar que era pauleira, mas não pensei que fosse quase pisoteada e tivesse os bolsos revistados três vezes. A sorte: comprei uma “doleira”, vendida a R$ 5 por ambulantes em quase todas as esquinas, e meu dinheiro e documento estavam por dentro do shorts. Após o sufoco, caminho de casa. Para uma boa sedentária, um circuito de quase cinco quilômetros é suficiente para as panturrilhas reclamarem.

Ivete Sangalo no Cerveja e Cia. Foto: Erica Almeida - Setur/BA

Ivete Sangalo no Cerveja e Cia. Foto: Erica Almeida – Setur/BA

No domingo, saí no bloco Pirraça, puxado pelos goianos e sertanejos Jorge e Mateus. Adoro a dupla. Canto as músicas até chorar e até curti a vibe do bloco – de cara, ganhei um chapéu. Achei que seria o auge do Carnaval. Mas o sangue baiano novamente falou mais alto e achei que os sertanejos não ornaram com a festa do axé. Os solteiros amaram, já que o bloco reuniu muita gente bonita e desimpedida. Pegação geral. Boa experiência. Não repetirei.

Jorge e Mateus na varanda VIP do Camarote Salvador, o mais bombado da Barra-Ondina

Jorge e Mateus na varanda VIP do Camarote Salvador

Na segunda-feira, tinha a promessa de sair no bloco mais bonito da parada: o Me Abraça, do Asa de Águia. Dito e feito. Povo bonito. Pipoca bonita (na segunda-feira, os Filhos de Gandhi desfilam na Barra e a avenida fica enfeitada de moços distintos. Solteiras, façam fila!). Galera animada. Recomendo!

Farol da Barra - Ponto de partida dos blocos no Circuito Barra-Ondina

Farol da Barra – Ponto de partida dos blocos no Circuito Barra-Ondina

Na terça-feira, era dia de praia. Não tinha mais pernas. Vilas do Atlântico, com sua calmaria, era um lugar perfeito. Mas e a despedida do Carnaval? De novo não deu para resistir. Depois de por o pé na areia, voltei à avenida, desta vez em um esquema muito legal. Na pipoca, resolvemos (três casais) entrar no Barra Vento, um bar e restaurante bem conhecido da Barra. Eles cobram pela reserva da mesa (R$ 400 para quatro pessoas) e basta consumir bebidas e comida no local. De lá, dá pra ver toda a festa. A localização é privilegiada – na frente do Camarote 2222, de Gilberto Gil. Quase todos os artistas param para saudar o “rei da Bahia” e improvisar uma canção em dupla. Vale muito a pena!

A calmaria de Vilas do Atlântico é uma das opções mais atraentes para curtir no fim da folia

A calmaria de Vilas do Atlântico é uma das opções mais atraentes para curtir no fim da folia

Peculiaridades

Em Salvador, cerveja custa mais barato que água. Pelo menos no circuito do Carnaval. É possível comprar uma latinha menor, que eles chamam de “periguete”, por apenas R$ 1. Há ainda opções de marcas que vendem três unidades por R$ 5. A avenida fica estrelada de plaquinhas com ofertas: “Periguete, R$ 1” ou “Três periguetes por R$ 5”. Uma festa!

O Farol da Barra e a plaquinha de promoção de Ice três por R$ 10.

Ice três por R$ 10.

Encontrar um táxi em Salvador, no Carnaval, não é tarefa fácil. E para onde você vá, é preciso uma boa caminhada para achar um veículo disponível. O taxímetro raramente é utilizado e, antes de contratar o serviço, o taxista faz a oferta e você avalia se aceita ou não. Na maioria das vezes, aceitará. O esforço para conseguir outro há de ser grande.

Comprando o ingresso para os blocos

Antes de viajar, havia comprado pela internet um pacote com três blocos. Paguei por eles R$ 910 (que pode ser dividido em até dez vezes no cartão de crédito), mas tive que ficar duas horas numa fila para poder resgatar os abadás. Meu conselho: tem que valer muito a pena o preço (ou o prazo) para encarar a compra pela internet e a fila para pegar o abadá. Isso pode ser legal para quem comprar os primeiros lotes dos pacotes, que são lançados já na Quarta-feira de Cinzas. Interessante também para quem pode retirar os kits com antecedência, nos dias em que a cidade está mais vazia.

Mas, se tiver com o dinheiro na mão e vai comprar de última hora, recorra às feirinhas espalhadas pela cidade: Aeroclube, Jardim Brasil, Chame Chame etc. Esse foi o conselho da minha amiga que mora em Salvador, mas a ansiedade para dizer aos amigos em quais camarotes/blocos sairia me obrigou a fazer a compra antecipada. Resultado: dava para comprar o mesmo pacote por R$ 650 na hora. E ainda teve o agravante de o pacote (que era a opção mais barata) não ser o ideal. Acabei trocando o bloco do domingo (e recebendo até um dinheirinho em troca) e vendendo o da segunda-feira. Em resumo: mau negócio.

Feirinha de troca de abadás no Aeroclube

Feirinha de troca de abadás no Aeroclube

Dicas

O sucesso de um Carnaval em Salvador depende de um bom planejamento. É preciso saber qual o seu objetivo na folia: conhecer o Carnaval tradicional, com seus encantos e afoxés, ou ir para a farra do axé music, que é desejada pela maioria. São três circuitos de folia na capital baiana: o Batatinha, que é no Pelourinho; o Dodô, que é na beira-mar, da Barra até Ondina; e o mais antigo, que é o Osmar, que passa pela Avenida Sete de Setembro, no Campo Grande.

Minhas dicas para quem não conhece a folia:

– Compre com muita antecedência ou no dia. Antecipado, dá para pagar barato e dividir no cartão, apesar da fila quilométrica para retirar os abadás. Na hora, é possível negociar tranquilamente com os cambistas nas conhecidas feirinhas. Eles trocam, vendem, compram abadás. Basta ter paciência, um bom filtro solar e boa lábia.

– Compre uma doleira. Vendida a R$ 5, o acessório pode ser colocado por baixo da roupa e evita os roubos.

– Não saia na pipoca do Chiclete com Banana. A menos que você queira ser pisoteado.

– Separe pelo menos um bom par de tênis, com amortecimento, e não tenha ciúme dele. Vai ficar imundo.

– Não se irrite com empurrões e pisões. Leve numa boa e não estrague sua festa.

– Se quer aguentar uma maratona de bloco e camarote no mesmo dia, faça preparação física antes da festa. O batidão é pesado.

– Use filtro solar e opte por um frasco menor, que caiba no bolso, para ser reaplicado durante o circuito. É bem caro tirar manchas da pele.

– Prepare-se para querer voltar todos os anos. Como diria o poeta, “eu queria que essa fantasia fosse eterna”.

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Comentários

  1. Ô vontade! Quem mandou casar com um cara que não gosta de Carnaval?
    Parabéns pelo post!

    []s
    Camila

  2. Valéria Dórea
    22 fev 2013

    Millena, PARABÉNS, vc conseguiu transmitir em poucas palavras o que de fato é o carnaval de Salvador e ainda de quebra deu um guia prático para “marinheiros de 1ª viagem”. Você é simplesmente o máximoo!!! Ano que vem quero que vc esteja no ARRASTÃO da 4ª feira de cinzas para presenciar e depois publicar que belo é o ultimo dia de carnaval do povo.
    beijocas e mais uma vez PARABÉNS!!!

  3. Handerson Nunes
    22 fev 2013

    Millena, muito legal o seu relato sobre o carnaval de Salvador. Parabéns!
    Para quem gosta deve ser uma delícia, mas não para mim… O bom foi que ele reforçou meu desejo de nunca aparecer por lá.
    Beijo grande!

    • ahahahhaha… Temos opiniões bem parecidas com relação a esse evento e o relato da Millena. rs

    • Freddy Charlson
      23 fev 2013

      Gente, de alguma forma posso bloquear esse post para a Dilminha não ver?

      Tudo o de ruim que a Mi disse deve ser ótimo para minha esposa…

      E o que ela falou de bom deve ser “magaviloso”!!!

  4. Luciana Lacerda
    22 fev 2013

    Millena, realmente é gratificante o Carnaval de Salvador. A energia em sair atras do trio não tem igual, os primeiros acordes ainda na concentração é arrepiante. O ideal é comprar realmente com antecedência e passar procuração para um amigo resgatar os abadas logo no inicio, pois a fila de sexta e sábado ninguém merece. E que venha 2014. “Eu fui atrás de um caminhão, fazer
    Meu carnaval que o carnaval é feito no Coração…”

  5. Vanessa Lessa
    22 fev 2013

    Adorei a postagem!!! Faltou a nossa foto no Barravento rsrsrsrs

    beijos

  6. A melhor parte: é bem caro tirar manchas da pele!!!

    Adorei, Mi!!

    Não tenho vontade de enfrentar um batidão desses, mas acho que a experiência antropológica vale sempre a pena! 🙂

  7. Jefferson Silva
    24 fev 2013

    Olá Millena!
    Saudade!
    Depois dessa narrativa e de visualizar a alegria contagiante de vocês através das fotos bate uma saudade louca.
    Dá até pra sentir a brisa, o cheiro do mar. Arrepio só de pensar os momentos bons que passei por lá. Isso sem dizer que o que faz a festa ficar melhor são as companhias, os amigos que dividem a mesma emoção, o mesmo desejo de mostrar aos demais o quanto seria bom reunir a todos em torno dessa folia singular.
    Parabéns!
    Abraço,
    Jefferson Silva

  8. Gabriela Duarte
    07 jan 2015

    Nossa, andei procurando opiniões sobre o carnaval em Salvador e a sua me deixou ansiosa e ao mesmo tempo arrependida pq já comprei todos os meus camarotes pela internet, esse é o meu primeiro ano em Salvador na época de carnaval, já passei réveillon e ameeei!!

  9. Marcus
    13 jan 2016

    Dicas super legais, mas agora fiquei mais na duvida de ir, hahaha será que dou conta desse pique todo? que venha o carnaval \o/

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